terça-feira, 15 de outubro de 2013

Circuito FPME Escalada em Bloco - 9 novembro


A próxima prova do Circuito FPME de Escalada em Bloco para os escalões jovens (infantis, iniciados, juvenis e juniores), será realizada no próximo dia 9 de novembro (sábado), no Pavilhão Municipal da Figueira da Foz - Paião. Oportunamente será divulgado o programa neste blog e na página da FPME.
O valor da taxa de inscrição é de 10€ para atletas federados FPME com licença anual nível 2 (ou atletas escolares federados FPME com licença nível 0) e que se inscrevam até ao próximo dia 4 de novembro; 15€ (nas condições acima referidas) para os atletas que se inscrevam no dia/local da prova; 20€ para atletas não federados ao qual acresce a taxa de 5€ para requisição do seguro, que deverá ser adquirido no dia da prova, junto da organização.
As inscrições (em formulário próprio) deverão ser enviadas até ao próximo dia 4 de novembro, para o seguinte endereço: clubemontanha.ffoz@gmail.com

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Campeonato Europeu de Jovens, Laval, França - 12 e 13 de outubro


Estão novamente de partida os atletas do CMFF para participar em mais uma prova do Campeonato Europeu de Jovens. Desta vez, a prova ir-se-á realizar em Laval, França e contará com a presença de Beatriz Coimbra, Mariana Jordão, Patrícia Medina, Rafael Henriques, João Sousa e Ricardo Coimbra que, irão integrar a seleção de jovens da FPME! O número de atletas do Clube de Montanha da Figueira da Foz a representar as cores nacionais está a aumentar, sendo o reflexo da motivação e do empenho demonstrado ao longo deste ano. Também irá integrar a seleção de jovens FPME, o atleta do NESoure, João Évora. A todos eles BOA SORTE! 

Fica um pequeno teaser da promoção do evento...promete!


terça-feira, 1 de outubro de 2013

"Sonhos Intermináveis", o relato


De 15 de Agosto a 15 de Setembro, Daniela Teixeira e Paulo Roxo, certamente os dois alpinistas mais obstinados do nosso país, embarcaram numa nova aventura nos himalaias do Karakorum, Paquistão. Esta foi, sem dúvida, aquela em que o sucesso abriu as portas, coroando esta dupla, com uma magnífica ascensão a uma montanha virgem nos himalais.   Esta foi, uma atividade de pura exploração, que marcará a história do alpinismo nacional e, que decerto irá inspirar outras cordadas.

Paulo Roxo e Daniela Teixeira pouco antes de embracar
Fica o relato...

O sonho de escalar num dos vales mais espectaculares do Paquistão ganhava cada vez mais forma, à medida que o dia da partida se aproximava.
No entanto, inesperadamente, alguns factores de instabilidade alteraram radicalmente o rumo dos planos. E, tal foi a alteração que, apenas nos decidimos a ir, uma semana antes do dia marcado para o voo. Quase nos surpreendemos, quando nos apercebemos que afinal de contas, iriamos mesmo iniciar a nossa nova aventura nas magníficas montanhas do Karakorum.
Uma das condições auto-impostas ainda em Portugal, seria a de esperar o tempo que fosse necessário para garantir o transfer de avião entre Islamabad e Skardu, a capital do Baltistão e ponto de partida para as montanhas. Desta forma, evitaríamos a infame Karakorum-Highway, e mais de 20 horas seguidas de estrada de curvas constantes, trepidação, pó e perigos vários, entre eles, despistar-nos num troço qualquer sem barreiras de protecção e despenhar-nos, lá bem em baixo, nas águas bravas de um rio indomável, proveniente dos glaciares dos Himalaias.
Desde Islamabad os aviões navegam “à vista” pois, o aeroporto de Skardu não possui radar, o que equivale a dizer que, em caso de mau tempo, os voos são cancelados.
Ao segundo dia de mau tempo, como tínhamos fogo no rabo, decidimos meter-nos à estrada e mandar às favas a nossa própria promessa de esperar. Apesar da patente tensão que notávamos nas caras dos polícias, sitiados nos inúmeros postos de controlo, a viagem interminável de 25 horas até Skardu, fez-se com relativa tranquilidade.
No dia 22 de Agosto iniciámos a caminhada de aproximação através de um vale permanentemente ladeado por paredes de granito impressionantes. Finalmente, adentrávamos no vale mágico do Nangma. Dois dias de caminhada aprazível colocaram-nos no local escolhido para campo base, mais ou menos aos 4200 metros de altitude.
Após descarregarem todo o equipamento e ajudarem a montar as tendas, os carregadores voltaram pelo mesmo caminho de subida, não sem antes, receberem a respectiva gorjeta, como mandam os costumes já assimilados, de forma não oficial, pelas expedições.
Desta forma, assentámos base, quatro solitárias figuras constituídas por mim, pela Daniela, pelo cozinheiro (e amigo de outras datas) Altaf e… o seu filho de 13 anos, Alam, que subiu todo contente e animado, a puxar uma trela atada ao pescoço de uma cabra, como se se tratasse do seu cão de estimação. O sorriso permanente de Alam, também se devia ao facto de saber que não iria à escola durante uns 25 dias, o tempo calculado de permanência no campo base.
Dois meros dias de campo base bastaram para nos pormos a mexer em direcção ao nosso objectivo, que até essa data era bastante difuso, mesmo inexistente. Como as informações de que dispúnhamos eram bastante reduzidas, teríamos de realizar uma verdadeira actividade de exploração. E isso constituía, na verdade, um dos principais atractivos da nossa expedição. Tínhamos ali a oportunidade de viver uma autêntica expedição de descoberta. Um privilégio já muito raro no mundo e nos dias que correm.
Atravessámos terreno incómodo de blocos instáveis e, após algumas horas, chegámos ao sopé de um glaciar sem nome. Imediatamente divisámos a “Dream line”. No fundo do vale, ali estava uma montanha soberba com uma linha imperdível. Uma aresta enorme, aparentemente desprovida de perigos objectivos. Uma daquelas vias que salta imediatamente à vista. Em toda a área, sem sombra de dúvidas, aquela era: A VIA!
Entusiasmados, montámos a nossa pequena tenda no início do glaciar. Nos dois dias seguintes, realizámos o reconhecimento e escalámos a primeira parte da via, terminando num colo evidente aos 5700 metros. Uma primeira parte de trepada com alguns passos mais complicados, que realizámos em ensamble, conduziu a uma secção mais empinada que nos obrigou a realizar seis lances encordados, constituídos por gelo até 65º e escalada mista fácil, mas precária. Baptizámos o colo com o nome “Alam”, como uma dedicatória ao filho de Altaf, que nos esperava, ansioso, no campo base.
Paulo na aresta de xisto, antes do colo Alam
Considerámos que duas noites acima dos 5000m e um “toca e foge” aos 5700m, talvez fossem suficientes como aclimatação, antes de realizar uma tentativa ao cume do Kapura. Restava-nos apenas esperar por um período de tempo estável.
No dia 31 de Agosto, realizámos uma prévia tentativa, imediatamente fracassada pelo mau tempo. No entanto, serviu para passar mais uma noite acima dos 5000m, o que acabou por constituir uma mais-valia para a nossa aclimatação.
A verdadeira oportunidade chegou após recebermos uma mensagem no telefone satélite enviada pelo Vitor Baia, desde Portugal. A mensagem dizia: “Previsões fáceis. Bom tempo e vento fraco do dia 4 a 10 de Setembro”. Esta certeza do Vitor (já considerado por bastantes alpinistas como um dos melhores do mundo no campo das previsões meteorológicas aplicadas à montanha) foi o pontapé de confiança necessário para realizarmos uma decidida tentativa de cume.
Por volta das 3.30 da manhã do dia 6, iniciámos a escalada dos primeiros 500 metros da via, repetindo o mesmo itinerário até ao colo Alam.
Bivaque no colo Alam
Passámos parte da manhã a tentar aplanar uma exígua plataforma de pedras de forma a colocar a mini-tenda. Finalmente, utilizando algumas lajes de pedra e preenchendo as lacunas com neve, lá conseguimos transformar aquele troço estreito de aresta, numa pequena base suficientemente grande para permitir duas pessoas deitadas. Um dos lados da tenda pendia para o vale do Charakusa, o outro, para o vale do Nangma. Naquele pouso de passarinhos tornou-se evidente que teríamos de dormir encordados e seguros ao pequeno rochedo que aflorava na aresta.
Precipicio para o Vale de Charakusa, bivaque Alam
Às 1.30 da madrugada do dia seguinte, iniciámos ascensão da segunda parte da nossa via, em direcção ao cume da montanha. Na escuridão da noite sem lua o nosso mundo reduzia-se apenas ao círculo de luz alcançado pela lanterna frontal. A escalada decorreu de forma mecânica, quase sempre em técnica de “piolet-tracção” pois, debaixo de uma fina capa de neve, o gelo encontrava-se duro como betão.
Daniela no dia de cume
500 metros de escalada conduziu-nos a uma banda de rocha intermédia que corta a parede na horizontal. Por cima das nossas cabeças, tínhamos uma parede vertical. A solução seria realizar uma longa travessia para a direita de forma a encontrar uma passagem possível. Decorreram alguns lances com passos de misto delicado. Os crampons gancheavam nervosamente em rocha, por debaixo de uma neve inconsistente. Nesse momento, agradecíamos a experiência em escalada mista, adquirida na “nossa pequena” Serra da Estrela. Felizmente, fomos encontrando locais decentemente sólidos para montar reuniões, recorrendo sobretudo aos pitons de rocha.
Daniela no dia de cume 
Paulo no dia de cume
Daniela no dia de cume
Após as travessias, alcançámos a segunda grande vertente, que conduziria ao cume.
A dúvida assaltava-nos. Passava das duas da tarde, um horário bastante tardio para uma escalada daquele género. Uma descida nocturna era cada vez mais evidente. O maior problema consistia em atravessar durante a noite a banda de rocha, uma vez que seria muito difícil, senão impossível, refazer todas as travessias da ascensão. A descida em rapel teria de ser realizada “a direito”, cruzando terreno desconhecido, sem saber se iríamos encontrar bons locais na rocha para equipar as reuniões.
Paulo no dia de cume
Por outro lado, confiávamos nas previsões meteorológicas para os dias seguintes que apontavam para tempo excelente e sem vento. Confiámos nas nossas próprias capacidades técnicas para concretizar a descida durante a noite e, sobretudo, sentíamos possuir ainda energias para assumir as muitas horas de acção que nos esperavam. Decidimos continuar para cima.
A foto de cume!
Eram as 18.00 quando chegámos ao ponto mais alto da face sul da montanha, um pico rochoso do qual qualquer objecto cairia, independentemente da direcção em que fosse atirado. Era o cume sul do Kapura, com 6350 metros de altitude. Tirámos algumas fotos da praxe e, 5 minutos depois, abandonámos um entalador e um mosquetão no cume da montanha e iniciámos o primeiro de muitos e muitos rapeis em direcção à segurança da nossa tenda, instalada uns 800 metros mais abaixo.
Às 3.30 da madrugada, chegámos finalmente ao colo e entrámos na minúscula tenda, que naquela altura tinha o sabor de uma mansão de luxo. Tinham passado 25 horas e 45 minutos desde que saíramos daquele local. Estávamos muito cansados, sedentos e famintos mas, também muito satisfeitos pela magnífica escalada que tínhamos acabado de realizar.
A celebração real só foi feita no seguinte dia, quando deixámos cair as mochilas no chão do campo base e atirámos para longe as botas de alta-montanha, substituindo-as pelas libertadoras sandálias.

Paulo Roxo e Daniela Teixeira
A foto da via "Sonhos Intermináveis", 1300m, 70º/ M4